A gente começa correndo por acaso. Quando vê, está torcendo por um Mundial no quintal de casa.

Não é ao acaso. Já somos 13 milhões de corredores no país, segundo recentes estudos, e continuamos crescendo. É nessa onda que entra a ambição de Wlamir Motta, presidente da CBAt, que confirmou a candidatura do Rio de Janeiro para sediar o Campeonato Mundial de Corrida de Rua em 2028. “A corrida de rua é um dos treinamentos esportivos que mais crescem no Brasil e no mundo, e o Rio está sendo protagonista nesse boom”, destaca.

Mas por que o Rio? Wlamir não faz rodeios. “Todo mundo quer correr no Rio”. E, convenhamos, ele tem um ponto. Não é só pelo cenário. Para além do charme da cidade, o sucesso da Maratona do Rio em infraestrutura, organização e impacto econômico virou argumento na escolha da cidade para a candidatura ao Mundial. Só na última edição, a prova atraiu 80% de participantes de fora do estado, com corredores de todo o Brasil e de outros países, evidenciando o potencial nacional e internacional do evento.

“A Maratona do Rio hoje só perde para o Carnaval e para o Réveillon”, afirma Wlamir, ao dimensionar o evento no calendário da cidade.

Os números falam em um impacto econômico acima de R$350 milhões e 92% de ocupação hoteleira mesmo na baixa temporada. No radar internacional, o evento ganhou lastro ao aparecer em rankings globais de maratonas, além de estar em 29º lugar na lista de top 50 maratonas do mundo da World Athletics (órgão mundial da modalidade). A própria CBAt já formalizou apoio para a candidatura da Maratona do Rio ao grupo das Majors, reforçando a ambição de colocar o Rio, de vez, no mapa mais cobiçado da corrida de rua.

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O mar de corredores na Maratona do RioAssessoria de Imprensa/Divulgação

O Mundial de Corrida de Rua, do jeito que a World Athletics desenha, não concorre com a Maratona do Rio. Ele combina provas de 1 milha, 5 km e meia maratona e assim, como os 42k da maratona, não se restringe à elite. “O Mundial de Corrida de Rua é aberto para os atletas amadores”, enfatiza Wlamir. É a mesma lógica que ganhou o mundo e ficou evidente na Olimpíada de Paris, em 2024, quando os amadores puderam viver a sensação de participar de algo “histórico” ao correr a Maratona ao lado dos grandes atletas.

Para mostrar ainda mais seu potencial para ocupar a vaga, o Brasil vai sediar o Campeonato Mundial de Marcha Atlética em Brasília, em abril de 2026, que pela primeira vez será realizado no Hemisfério Sul. Wlamir chama o evento de “cartão de visitas” para mostrar que o país tem condições técnicas, estruturais e financeiras para organizar competições desse porte. A World Athletics já fez duas visitas de inspeção, em abril e novembro, com uma comitiva grande em Brasília para inspecionar os espaços e validar um cenário que também conversa com a proposta de turismo esportivo.

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Wlamir Motta exibe o prêmio que a CBAt recebeu da World Athletics como Melhor Confederação de Atletismo do Mundo em 2022//Divulgação

O cronograma da candidatura para 2028 também tem uma lógica bem objetiva: o resultado deve sair até o final de 2026, deixando dois anos para organizar o Mundial. Para Wlamir, é pouco tempo para uma meta ousada, porque logística de cidade grande não é brincadeira. Mas ele está confiante para fazer acontecer. “A gente tem que parar com aquela síndrome de vira-lata do Brasil. Eu adoro quebrar paradigmas e é exatamente isso que eu vou fazer”.

Para sustentar esse tipo de plano, dinheiro importa. E, para uma confederação, dinheiro é mais do que pagar passagem e uniforme: é viabilizar projeto contínuo. Wlamir lembra que, quando assumiu a CBAt, em 2021, estava sem patrocínios e precisou, literalmente, “dar musculatura”, à gestão. No caminho, reconquistou a Caixa, hoje com contrato até dezembro de 2028. Ele também costurou acordos que ele trata como símbolo de maturidade do esporte. O principal, segundo ele, foi com a Puma: “o contrato mais longevo do esporte brasileiro”, com duração de 10 anos, de 2022 a 2032. “Isso é raro no marketing esportivo e é mais raro ainda no Brasil”, reforçou.

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Ele explica por que essa independência é estratégica. O COB é importante, mas, no caso da CBAt, representa algo como 15% da receita. E tem mais: recursos do COB só podem ser aplicados em modalidades olímpicas, o que deixa de fora áreas como corrida de rua, cross country e trilha e montanha, que também são atletismo. Para crescer de verdade, a confederação precisa de fontes próprias e parcerias que enxerguem valor além de medalha.

É aí que Wlamir faz questão de puxar a conversa para um ponto que, às vezes, a gente até esquece: “Corrida de rua é atletismo”, ressalta. Para ele, esse boom popular que está tornando a corrida uma paixão nacional, é uma porta de entrada poderosa para fortalecer também o esporte olímpico, detectar talentos e criar base. Na visão do dirigente, quanto mais gente correndo na rua, maior a chance de descobrir quem tem potencial para ir além do hobby e virar atleta de rendimento. “Essa massificação faz com que sejam identificados talentos que podem ser aproveitados nas provas de pista”, explica.

O atletismo brasileiro, aliás, parece ter entendido que esse crescimento não pode ficar só na largada. A CBAt tem investido na base para chegar mais forte nos próximos ciclos olímpicos e ampliar o alcance do esporte no Brasil, com um objetivo claro: transformar volume em legado, visibilidade e protagonismo internacional.

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Atletas de centrinho de formação da CBAt, octacampeão brasileiro sub-16//Divulgação

Um projeto que Wlamir trata como “menina dos olhos” são Centros de Formação de Atletismo (CFAs), chamados de centrinhos: 85 núcleos em 21 estados, atendendo 7 mil crianças a partir de seis anos. Ele faz questão de diferenciar iniciação de especialização precoce: o projeto visa apresentar várias modalidades na infância, deixar a criança descobrir livremente afinidade e aptidão. “Não importa se será um atleta profissional no futuro. O importa é que essa criança que conheceu o atletismo, ela vai ser um cidadão melhor”, diz, traduzindo o melhor do esporte, que é ser ferramenta de democracia e cidadania.

Que seja esse o mantra do Rio na história da corrida de rua.

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